A APAIXONANTE MISSÃO EDUCADORA DA FAMÍLIA
Pedro Gómez Serrano, professor de Economia Mundial na Universidade Complutense, Madri, escreveu um longo e profundo artigo sob o título de La familia, escuela de liberación, justicia y solidariedade, publicado na Revista Sal Terrae, de Espanha, n. 91, 2003 (373-387). Alguns extratos do texto em questão transcrevemos e adaptamos para os que visitam nosso site e o fazem às vésperas de mais um Congresso da EPB cuja temática gira em torno da construção e reconstrução da família.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Membro do Conselho de Educadores da EPB
- “A família continua sendo, apesar de tudo, o espaço primário privilegiado de personalização e socialização; um espaço de auto-realização, comunicação, lazer e afeto. Se vier a falhar nesses aspectos, seu fracasso repercute não somente no amadurecimento pessoal de seus membros, como também tem reflexos no ambiente social à sua volta, como sabem perfeitamente psicólogos, trabalhadores sociais, sociólogos e educadores. Na família acontecem as primeiras experiências da vida que tanta importância têm na configuração da forma pessoal de alguém se situar no mundo. Tudo o que vier acontecer depois servirá apenas para modificar ou enriquecer estas experiências fundamentais, que quando tiverem sido negativas ou dolorosas, ocasionam danos difíceis de serem reparados” (p. 373).
- “A renúncia de muitos pais de tomar a sério suas obrigações educacionais parece refletir tanto a perplexidade dos próprios adultos ante o pluralismo ambiental, como um certo temor de confrontação ou o medo de serem rotulados de tradicionalistas e repressivos. Deve-se dizer, no entanto, que a ausência de educação é mais perniciosa do que uma educação autoritária ( da qual, alguém, depois pode bem se libertar). Na realidade o abandono relacional e afetivo acaba resultando nefasto para a consolidação de sua personalidade e fonte de inúmeros fracassos escolares e de comportamento socialmente conflitivos” (p. 377).
- As famílias têm apaixonante missão educadora suscitando e alimentando em seu seio atitudes que não são próprias de nossa sociedade:
- Levar os filhos a cultivarem e alimentarem a dimensão da interioridade.
- Ajudar seus membros a se exercitarem no espírito crítico e de autocrítica.
- Utilizar de forma inteligente os meios de comunicação social cujos conteúdos e mensagens deveriam ser discutidos em todas as famílias.
- Mensurar as consequências das escolhas que fazem, fizeram ou vão fazer os membros todos da família.
- Aprender a escolher e assumir responsabilidades de forma progressiva e arcando com as consequências das escolhas (sem protecionismo ou abandono por parte dos pais).
- Saber traçar, num tempo de transformações, o esboço de um projeto pessoal, em suas linhas gerais com realismo e audácia.
- Aceitar a crítica e a correção fraterna como mecanismo necessário para aprender e crescer a partir da autonomia.
- Descobrir que a aceitação de liames de fidelidade e solidariedade com valores e pessoas não está em oposição à liberdade, mas que a promovem.
- Aceitar que no exercício da liberdade muitas vezes será preciso defrontar-se com o conflito, empreender a negociação com os demais e cuidar de respeitar os outros.
- Reconhecer que entre a libertação própria e o compromisso com a libertação dos demais existe estreita ligação.
- O melhor de tudo é que tais ensinamentos importantíssimos podem realizar-se em qualquer família que consiga ter criado um ambiente de amor e aceitação mútua, através de mil pequenas decisões e tarefas que constituem a vida cotidiana de qualquer lar.
- Para que o efeito educativo da interação seja positivo basta, na realidade, que todos os membros da família dialoguem de forma habitual a respeito de decisões, razões que as fundamentam, sentimentos profundos que acompanham tais decisões bem como os efeitos que geram. Não é necessário complicar as coisas. Partilhar a vida num ambiente carinhoso e livre, é já educativo e terapêutico. Estas afirmações não se dirigem apenas aos mais jovens, mas a todos os membros da família. Os adultos é que costumam mostrar mais resistência às transformações. Se os adultos se excluem das regras do jogo e se refugiam numa posição de superioridade, o processo educativo estará bloqueado.