Ensinar filhos é um desafio em duas frentes: diário e de longo prazo. Exige respostas imediatas e não pode prescindir de um bom planejamento, que leve em consideração alvos de médio e longo prazos.
É preciso encontrar soluções para situações inesperadas sem perder a consistência. Saber para onde se está caminhando, o que se deseja alcançar, que tipo de caráter os filhos cultivarão quando adultos.
Ensinar, entre várias acepções, significa:
dar ensino a, adestrar, treinar. Dar a conhecer, indicar.
Sugere um processo que se inicia com o nascimento e perdura ao longo de toda a vida. Processo sujeito a avaliação, devendo ser testado, atualizado e corrigido diante de novas circunstâncias, de novos desafios.
É semelhante ao aprendizado de qualquer esporte. O começo é sem coordenação motora, mais erros que acertos, vontade de desistir, cansaço, incentivos e críticas, muitas correções, alguns elogios, persistência e paciência. Após algum tempo os resultados aparecem – já há boa coordenação, as correções diminuem, há mais alegria que cobranças, os elogios superam as críticas. Entretanto, não devemos esquecer que, como em tudo na vida, sempre haverá outras habilidades a aprender.
Treinar os filhos para a vida é mais interessante e desafiador que treiná-los para qualquer esporte. Um bom treinamento produzirá um cidadão consciente, honesto, de caráter, capaz de fazer diferença na sociedade.
Como ensinar é algo importante, deixar para decidir na hora da crise o que fazer para educar não me parece uma boa idéia. O acaso não produzirá um treinamento consistente, o que não se pode aceitar em missão tão importante.
Ensinar envolve algumas decisões importantes para os pais. Significa assumir algumas premissas:
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É preciso ter metas – aonde se pretende chegar? O que você espera de seu filhos nas situações importantes? Honestidade? Coragem? Levar vantagem em tudo? Ser confiável ou “ter jogo de cintura”? Lutar até o fim ou desistir diante da primeira resistência? Os fins justificam os meios? Muitas oportunidades surgirão para o treinamento: ele chega em casa com brinquedo que não é dele; passa em uma prova colando; quebra algo em casa e esconde, foge. A forma como os pais reagirem influenciará no caráter da criança.
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É preciso saber que é um processo – ensinar não é algo estático, inflexível. É um processo em constante mutação. Há falhas a serem corrigidas, há avanços e retrocessos, erros e acertos. Se um caminho não está funcionando é necessário testar outros. Adapta-se a cada criança, ao seu jeito e temperamento. Mas deve ser um processo pensado, articulado, capaz de orientar ações consistentes, que permita aos filhos perceberem que há um norte e que não depende apenas do humor dos pais.
Olho para os lados e não vejo pais que desejem ver seus filhos despreparados para a vida. Ao contrário, há sempre um desejo ardente de vê-los progredir, vencer, conquistar espaços, serem motivos de orgulho e satisfação.
No entanto, é possível perceber que nem todos estão conscientes da necessidade de ter um projeto bem elaborado de treinamento. Estão envolvidos por tantas exigências da vida que abrem mão de incutir nos filhos os conceitos corretos.
O espaço deixado pelos pais é logo ocupado pela TV, filmes ou novelas, amigos da escola e a cultura pós-moderna do relativismo.
Os filhos vão assumindo posturas que deixam os pais perplexos, atônitos, não poucas vezes envergonhados. Já adolescentes, não estão mais tão acessíveis ao ensino que passou da hora. Não há mais treinamento – há muita discussão, cobrança, intransigência, falta diálogo e não há mais como indicar o caminho ante a incapacidade de pais e filhos se comunicarem.
Educar exige dos pais muitas atitudes positivas, sem as quais os objetivos se tornam distantes e frustrantes.
Para treinar bem um filho para a vida é fundamental:
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Coerência – seja o sim, sim e o não, não. Quanto mais coerentes forem os pais mais obedientes serão os filhos. Eles não ficam em dúvida quando há uma ordem, um direcionamento. Sentem que os pais sabem o que estão fazendo, ainda que não gostem. Um filho chega para o pai e pede para ir para a chuva. O pai diz logo que não e pronto. O filho fica insistindo, pedindo, pedindo, pedindo. O pai faz de conta que não está ouvindo, mas, por fim perde a paciência e diz: tá bom, pode ir, mas só um pouquinho! Pronto, oportunidade de treinamento perdida. Ou pior, a criança está sendo treinada para não obedecer, percebe que insistindo, chorando consegue tudo.
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Esperança – treinar pressupõe a esperança de obter bons resultados. Qualquer que seja a situação da família, a esperança é uma companhia das mais interessantes. As correções necessárias, o cansaço que advém da disciplina serão recompensados. É promessa bíblica. Ensina, treina a criança e ela seguirá o bom caminho. Não desista de ensinar os conceitos corretos, pois há esperança no futuro.
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Perseverança – só vai para a frente quem não desiste. Ensinar exige perseverança. É luta constante, diária, por toda a vida. Quem larga mão no meio do caminho não chega a lugar nenhum. Vencem os que perseveram, os que vão até o fim. Pense no prazer de ter filhos equilibrados, conscientes, de bom caráter. Vale qualquer esforço.
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Paciência – os conceitos bons não são aprendidos facilmente. As porcarias sim. Portanto, prepare-se para ter paciência nas idas e vindas, erros e acertos. Siga em frente, pois você sabe aonde quer chegar (ou não??)!
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Cobrança por resultados junto com muitos elogios – uma regra de ouro no ensino é conhecida como a regra do sanduíche – uma crítica deve estar sempre envolvida por pelo menos dois elogios. Outra dica é lembrar que para cada crítica você deve ser capaz de fazer três ou mais elogios. Pais que só sabem corrigir, ver erros, criticar, reclamar, se aborrecer, exigir (ufa!), não são bons treinadores. Os filhos fazem dezenas de coisas boas por dia. Por quê só lembrar dos erros? Treinar significa elogiar o que está certo, incentivar, estimular e, quando necessário, fazer os ajustes necessários. Se você só corrige, não há filho que não desanime.
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Os resultados devem aparecer – é importante avaliar os resultados para perceber onde o processo de treinamento precisa ser revisto. Se não há resultados desejados algo está errado no ensino. O progresso deve acontecer. Um treinamento eficiente conduzirá a filhos obedientes, que não envergonham os pais, que respeitam as pessoas e as propriedades, que se comportam bem. Não quer dizer que nunca errarão, mas que já têm um caminho traçado.
A missão dos pais é imensa. Preparar os filhos para serem homens e mulheres de bem não é tarefa fácil. É um privilégio dado por Deus poder contribuir tão decisivamente na formação do caráter de outras pessoas.
Permitir que as crianças desenvolvam a rebeldia, o desrespeito por regras e pessoas, o desrespeito pelos valores cristão de integridade, honestidade e humildade é uma ofensa direta aos preceitos bíblicos. É semear no campo do inimigo.
Uma opção que não deve existir para famílias cristãs, nem que seja de forma inconsciente.
(*) Lúcio César Menezes