“Família Moderna” é tema recorrente, quando se quer falar de “família na atualidade”, enfim, as relações familiares nos últimos tempos.
Contudo, a rigor, na atualidade é mais usual o falar em pós-modernidade . Inicio com a cons-tatação de como se apresenta a atualidade, em geral, que afeta as relações familiares.
No contexto pós-moderno se pode consta-tar o que está no controle, bem como, dizer quem ou o que deveria estar no controle.
Muito sucintamente, como este espaço per-mite, é neste esquema que pretendo tratar o assunto.
1. Como se apresenta a atualidade?
O presente é “nu”, sem convicções. Não aceita o passado e não vê com clareza o futuro. Principalmente as nações desenvolvidas são atingidas por uma pobreza radical, que é a do relacionamento com o tempo: a expropriação do passado pela energia da modernidade que visa o progresso.
O presente é suspenso, como única dimensão temporal de evolução. Tudo é urgente, de modo a restar o ceticismo e a própria tenda de insatisfação e inquietude. Com efeito, esta nudez do presente afeta a qualidade dos relacionamentos: não há presença viva quando tudo é entregue à fragmentação de instantes, de agitação permanente. Se não correr, cai. Não há descanso, nem momento em que se sinta presente consigo mesmo. Então, como fica a presença do outro? Desaparece. Não interessa, se não interessar. Enfim, o presente, sem presença, cheio de mensagens vertiginosas, da sociedade de informação. Presente desumanizado que corrói e alarma.
2. Quem quer estar no controle da família atual?
Falta espaço para listar, mas se pode citar o que mais aparece e afeta as relações familiares: é indispensável o ter! O “ser”, o “transcendente” é para “ideólogos” que não têm o que fazer; que não têm futuro profissional assegurado nas exatas e vai estudar Filosofia, História, Sociologia… Enfim, área de Humanas, que é mais fácil passar no Vestibular e mais divertido para participar de protestos e graduar-se em “baderna”. Isso é expressamente pregado hoje pelos governos conservadores e liberais. “Um menino de 17 anos deve ir para um curso técnico e não estudar Filosofia… Deixe isso para mais tarde, quando não precisar mais ganhar dinheiro”. Materialismo e utilitarismo. Equívoco!
Assim fica no controle a pregação do imediato, assegurando cada um no aqui e agora, em especial na busca do divertimento, sem preocupar-se com valores transcendentais, com disciplina, com limites e, até mesmo, com a própria saúde física e mental. Mesmo que a diversão leve à indignidade e a perda da própria identidade.
Este jeito de pensar e agir são um pulinho para o CONSUMISMO e a GASTANÇA! Em consequência, tudo se torna obsoleto da noite para o dia. Convida-se para comprar o novo, adquirir o que pode dar status. Dá vergonha usar a mesma roupa, o mesmo carro, do ano passado! Acaba-se gastando – muito – comendo, bebendo, comprando o que não é importante, acumulando, juntando. Consomem-se bens e consomem-se pessoas. Estas últimas, como se fossem “aparelhos-que-logo-saem-da-moda”, como a camisa, o sapato, a calça… E o carro. A fidelidade é caretice. Bom é a pessoa ser escrava dos bens, do dinheiro, da posição da moda, daquilo que os outros podem pensar a seu respeito.
Assim, ficam no controle, além dos acima citados, materialismo e utilitarismo: egocentrismo, narcisismo, acanhamento, mesquinhez, inclemência, inflexibilidade, intolerância, intransigência, ambição, apego, apetite e insaciabilidade, avidez, ciúme, cobiça, cupidez, desejo à frente da necessidade, egoísmo, fome, ganância, interesse, inveja, busca intermitente pela gratidão e pelo reconhecimento dos outros.
3. Quem deve – e pode – estar no controle da família, hoje e sempre?
O precisamente e diretamente contrário do item anterior, ou seja, a educação e o exemplo para os grandes valores da humanidade, capitaneados pelo amor e seus consentâneos: solidariedade, generosidade, condescendência, desprendimento, prodigalidade, benevolência, magnanimidade, tolerância, transigência, beneficência, abnegação, altruísmo, desambição, desapego, desinteresse.
Há famílias, cujos pais dão o exemplo aos filhos quando se engajam em trabalhos voluntários, quando atendem aos necessitados, quando estão dispostos a ajudar quem precisa, sem interesse, sem sequer buscar gratidão ou o aparecer.
A FÉ, busca do transcendente deve estar entre os principais itens do controle. Há famílias, cujos lares são verdadeiras “igrejas domésticas”, que oram-rezam-celebram antes das refeições, quando chegam das compras do mercado, antes de dormir, ao acordar; quando alguém vai viajar ou vai para o trabalho… Que vão ao culto, à missa, enfim, à sua Comunidade Eclesial, juntos. As crianças desde logo aprendem que há algo maior e mais importante que papai, que mamãe, que o governo.
Conclusão
Há esperança: o homem nunca teve tanta criatividade e vigor, como agora, justamente por sentir-se ameaçado. O lamento é o prelúdio para novos paradigmas da verdadeira presença.
Felizmente, portanto, não precisamos ver com pessimismo quem efetivamente está no controle da família atual, pois, a burrice não pode – nem deve – imperar. Pois, é princípio ontológico, que o ser luta por conservar-se e não por destruir-se.
Ora, na medida em que se renuncia ao ter, possuir e usufruir vai simplificando por dentro a pessoa, de tal modo que se torna capaz de saborear o gosto da verdadeira liberdade.
Muito já se “profetizou” sobre o “fim da família”. Contudo, nunca se falou tanto em “conservá-la”, mesmo quem a veja neste mar de diversidades de formas. Porém, sempre com o que é essencial para mantê-la.
Enfim, constata-se inevitavelmente que a manutenção da espécie e sua evolução, sempre para o melhor, dependem, sem dúvida, da FAMÍLIA.
Referências:
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