Uma fonte muito importante de felicidade e bem-estar em nossa vida é a amizade, já que proporciona o suporte social, o compartilhamento de experiências, de interesses, de sentimentos e de emoções (BORSA, J. C., 2013). Por este motivo, a ausência desses laços criados pela amizade pode ser considerada um fator para problemas comportamentais e/ou emocionais, e também, dificuldades nas habilidades sociais como cooperação e resolução de conflitos.
Sua relevância é reforçada por estudos que indicam que ter a presença de pessoas felizes em nossa rede de contatos já aumenta significativamente a felicidade, ou seja, a amizade torna a pessoa mais feliz, já que, aproximadamente, 70% de nossa rede é composta de amigos (SOUSA, D. A; CERQUEIRA-SANTOS, E., 2011).
De maneira geral, a amizade é diferente conforme a etapa de vida. Durante a infância ela é baseada em brincadeira, companheirismo, diversão e afeto; já na adolescência ela tem características adicionais de intimidade, lealdade, aceitação, confiança, proximidade e autoexposição. Ocorre na fase da juventude um pico de sua função, onde esses relacionamentos ajudarão o indivíduo em sua adaptação a novas tarefas de vida e desafios em termos de relações interpessoais e de carreira profissional. É um importante relacionamento também na vida adulta, por vezes como complemento à ausência de laços familiares fortes, distanciamento da família devido a deslocamento consequente de atividade empregatícia, entre outros fatores (SOUZA, L. K; DUARTE, M. G., 2013; SOUSA, D. A.; CERQUEIRA-SANTOS, E., 2011).
Atualmente, por consequência da rotina que é exigente e desgastante, seja pelo trabalho, pelo trânsito, pela distância, pela violência e pela sensação de insegurança, a falta de tempo é comum e os relacionamentos são influenciados. O resultado disto tem sido uma qualidade de vida ruim, pouco ou nenhum tempo para o lazer ou mesmo a inexistência de lugares públicos para o encontro entre as pessoas. Portanto, na sociedade em que estamos vivendo, ter um amigo estável, duradouro, pode significar um ponto de apoio necessário em momentos importantes (SILVA, B. G. R. S, 2014).
A amizade pode ter configurações e intensidade diferente dependendo de fatores individuais da relação e dos envolvidos, dentre eles, a similaridade destes quanto à idade, sexo, crenças, valores, escolaridade; a longevidade da relação e também a comunicação, fato esse que nos últimos tempos tem sido influenciado pela evolução acelerada das tecnologias modernas, inclusive da telefonia celular.
As novas tecnologias estabelecem novas relações comunicativas e, consequentemente, uma Amizade Moderna, onde a distância física entre os envolvidos não é um fator de extrema relevância, como era em tempos passados. O celular, por exemplo, tem aumentado sua influência no meio social, permitindo aos usuários estarem acessíveis o tempo todo, independentemente de onde se encontram no espaço físico. E essa é a realidade de grande parte da população, já que somente no Brasil, segundo dados da Anatel, em março de 2019 eram 228,9 milhões de celulares.
Em um primeiro momento podemos pensar que o aumento do relacionamento através destas tecnologias resulte na “impessoalidade” na comunicação, agravando ou até mesmo enfraquecendo os laços de amizade, sendo o equipamento um limitante ou empecilho na comunicação efetiva entre as pessoas. Mas, segundo estudos, esta não é a realidade. Como a comunicação é facilitada, o contato é mais constante e com isso os laços são reforçados, tornando-se um instrumento de socialização (SANT’ANNA, H. C.; GARCIA, A., 2011; SILVA, B. G. R. S, 2014).
Para muitos adolescentes, por exemplo, não há diferença entre falar ao celular e encontrar alguém face a face, uma vez que a tecnologia teria se tornado a principal forma de socialização dos adolescentes. Podem receber uma mensagem discretamente, refletir e responder não importando onde estejam. Embora a conversação por mensagens de texto possa ser rica em significados que transcendem o texto, são pobres nos demais elementos da comunicação humana: linguagem corporal, expressões faciais e toque. Muitos jovens preferem a conversação via mensagem, especialmente em situações de conflito ou emocionalmente carregadas, e pela possibilidade da comunicação ocorrer sem eles serem vistos.
Com o auxílio de novas formas de comunicação as amizades ganham um novo contorno, com efeitos principalmente positivos. De modo geral, pode-se dizer que o celular intensifica as amizades do dia-a-dia, ampliando o tempo e as possibilidades de manter-se conectado. Os dados indicam que não se trata de ter-se dois mundos separados, amigos presenciais e amigos virtuais/ pelo telefone, mas sim que a telefonia celular vem complementar e aprofundar as amizades já existentes, não somente marcando e coordenando encontros pessoais, que são muito importantes para a manutenção da amizade duradoura, mas também aumentando a quantidade de informações e diversificando as possibilidades de contato, mesmo que este não possa substituir o contato pessoal (SANT’ANNA, H. C.; GARCIA, A., 2011; SILVA, B. G. R. S, 2014).
Em resumo, a telefonia celular permite um avanço na comunicação com amigos, que resulta em amizades potencialmente mais integradas, informadas, satisfatórias, apoiadoras e próximas. Mas enquanto as possibilidades de apoio aumentam, há limitações no avanço da intimidade em função da falta de confiança na telefonia celular, da ausência de privacidade, da falta da comunicação corporal. O ideal é a utilização de maneira equilibrada desta e de todas as tecnologias que estão disponíveis para auxiliarem nas relações.
Referências
BORSA, J. C. O papel da amizade ao longo do ciclo vital. Psico-USF, Itatiba, v. 18, n. 1, jan/abr 2013.
SANT’ANNA, H. C.; GARCIA, A. Tecnologia da comunicação e mediação social: o papel da telefonia celular na amizade entre adolescentes. Interação em Psicologia, Curitiba, v.15, n. 1, p. 37-50, 2011.
SILVA, B. G. R. S. A função social da amizade duradoura na sociedade contemporânea: um estudo com jovens adultos moradores da metrópole paulistana. Tese (Doutorado em Sociologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas. Campinas – SP, 2014.
OUSA, D. A; CERQUEIRA-SANTOS, E. Redes sociais e relacionamentos de amizade ao longo do ciclo vital. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v. 28, n. 85, p. 53-66, jan/abr 2011.
SOUSA, L. K; DUARTE, M. G. Amizade e bem-estar subjetivo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 29, n. 4, p. 429-436, out/dez 2013.
Publicado na Revista Escola de Pais Seccional da Grande Florianópolis – dezembro de 2019, pg. 34
Publicado na Revista Escola de Pais Seccional da Grande Florianópolis – dezembro de 2019, pg. 34
(*) Carolina Borges de Oliveira – Associada da Escola de Pais – Seccional de Curitiba. e-mail: [email protected]